O caminho mais fácil

“O comportamento psicossocial vem por duas únicas maneiras: pelos arquétipos e pela convivência e aprendizado”
Ricardo Ventura

No livro de Eclesiastes na Bíblia, existe uma passagem que diz que Deus “pôs o mundo no coração do homem, sem que este possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até ao fim”.

Daria para traduzir “o mundo no coração do homem” como os arquétipos, o padrão que nos guia silenciosamente, mesmo que a gente não tenha consciência deles em todos os momentos. Alguns chamam de lógica da vida.

Ao longo do tempo, diversos estudos buscaram entender esses padrões comportamentais e como esse aprendizado pela convivência molda, ou não, até certo ponto, quem somos.

Há um limite do bom senso para todas as teorias, em especial as que envolvem seres humanos, para não cair no extremo da segregação a lá Hitler, ou no julgamento de valor por aspectos físicos. Contudo, existem formas saudáveis de avaliar esses aspectos.

O corpo explica a mente

No artigo O corpo fala, mencionei um desses estudos iniciados no século passado, que cientistas comportamentais recentemente ampliaram ao criar uma ferramenta capaz de medir por meio das evidências dos traços corporais qual o impacto permanente do aprendizado de uma determinada fase da vida de uma criança.

De forma resumida, essa linha teórica explica que características corporais de origem não genética, evidenciam quais os padrões comportamentais foram aprendidos durante a formação da criança no período da gestação (fase cerebral), amamentação (formação cervical), início da interação social (fase torácica), desfralde (fase lombar) e desenvolvimento da sexualidade (fase sacral).

Durante essas fases, ocorre aquilo que aprendemos nas aulas de biologia na escola: a mielinização, ou seja, ou “fios” dos neurônios são encapados com a bainha de mielina, o que vai trazendo sensação e controle corporal nas determinadas fases do crescimento da criança até cerca de cinco ou seis anos.

Essas sensações trazem aprendizados e experiências que fazem o cérebro adotar o caminho mais fácil (que é nosso hábito até hoje, qualquer neurocientista concorda!).

Dependendo do que ocorre no ambiente e nas percepções daquele indivíduo em formação, ele vai criando mais ou menos recursos para escapar de dores como o medo da rejeição, abandono, manipulação, humilhação e traição.

Não significa que ter certas características vai determinar o seu destino ou seu caráter, no sentido de conduta moral e ética. Elas vão indicar o seu caminho mais fácil, o mapa que o seu cérebro construiu para evitar suas dores, bem como todos os recursos que ele criou para você passar bem longe delas e seguir a sua jornada.

Somos autores da nossa história!

Consciente ou inconscientemente, escolhemos caminhos que evitam dores conhecidas com as quais tivemos contato na primeira infância e aprendemos que devemos fugir delas. No entanto, não somos reféns, porque o nosso cérebro também construiu recursos para que naturalmente tenhamos formas de agir em condições diferentes.

Conhecer a medida das dores e dos recursos nos capacita a ir mais longe, escolher ambientes favoráveis, companhias, alimentos, situações, conhecimentos e práticas favoráveis, e evitar de forma consciente tudo que te leva para o caminho da dor. Porque mesmo tendo os recursos, existem situações que nos fazem permanecer na via oposta ao caminho mais fácil, mesmo com todos os sinais do mal que está te causando.

Existem pessoas mais criativas, mais comunicativas, líderes, planejadoras, executoras. Saber uma medida exata do potencial de cada um não segrega ninguém, não as torna melhor nem piores que ninguém, e não a condena a ser menos do que elas precisam ser.

Um gato nasceu para andar com quatro patas, um peixe para nadar, um pássaro para voar.

Uma pessoa desenvolveu recursos suficientes para ela ser quem ela precisa ser; nada a impede de seguir outro caminho, ele apenas será mais doloroso e difícil.

No próximo texto falarei sobre a linguagem silenciosa dos traços de caracteres. Não é apenas o formato do corpo que evidencia o comportamento, a engenharia reversa das narrativas também atestam!

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