Você não sabe se comunicar

Somos responsáveis pelo que as pessoas entendem, mas não pelo que elas não querem entender.

No último artigo, escrevi sobre o vício de falar difícil e a luta para sermos entendidos.

Só que em toda comunicação existe aquele que transmite a mensagem e aquele que pode ou não querer entendê-la.

Algumas pessoas, mesmo com diploma, preferem manter seu vocabulário nível 5ª série, e tudo bem! Na maior parte das vezes elas não vão precisar te entender mesmo!

Outras entendem, mas fazem questão de que seja dito do jeito delas, então exigem que você mude. 

Ambas não fazem parte da sua persona, aquelas que mais precisam entender sua mensagem.

Por exemplo, um restaurante vegano não precisa fazer anúncios para pessoas que comem carne.

Eles podem até financiar pesquisas e notícias para criticar o costume de comer carnes.

Podem persuadir pessoas a adotarem o seu costume, mas não farão uma divulgação direta ao público que não é vegano.

Se você é escritor, não precisa escrever como um twitteiro recém saído da puberdade, nem como quem escreve uma letra de funk com palavras de uma sílaba.

Seja autêntico! Este foi o conselho que recebi uma vez.

Quanto mais tentamos nos adaptar ao gosto de pessoas que não precisam nos compreender, mais doloroso fica o processo de comunicar.

E não é pouca coisa! As críticas vindas de quem só quer nos diminuir, podem causar estresse e outras doenças.

Não se trata da arte de ser grosso e se dizer sincero demais.

Nem de abusar do “tecniquês”, usando termos que só são entendidos dentro do seu grupo de ideias comuns.

Trata-se de se fazer entender, mas percebendo quem são as pessoas que de fato precisam ouvi-lo.

Uma vez uma cliente muito querida, em outras palavras disse:

“Você não fala difícil, você se expressa bem. Como escritora, é esperado que você se comunique de forma impecável, porque eu quero que os meus textos fiquem impecáveis também.”

Reduzir um texto para atender quem só quer ler até 280 caracteres pode ser traumático.

(Elas estão perdidas, porque até o Elon Musk já aumentou os caracteres do Twitter para 4000!)

A ideia de que as pessoas não leem “textão” é um mito.

Existem perfis na internet – com quase 100% de conteúdo em texto, com mais de 100 mil seguidores! Tudo é uma questão de atender ao público certo.

Estamos numa geração que exige muitos direitos e poucos deveres. Querem que tudo seja adaptado às suas dificuldades e não querem fazer sua parte. 

Não querem aprender, não querem evoluir, não querem se esforçar para ser capaz de entender.

É direito delas se manter limitadas e é dever do escritor continuar escrevendo para quem quer o seu conteúdo.

Para essas pessoas, faça o seu melhor!

Dica prática:

Existe um índice internacional de legibilidade de um texto, chamado Flesch Reading Ease, que avalia se o texto atende níveis de leitura para ensino básico, ensino médio e graduados. A fórmula foi desenvolvida por Rudolf Flesch em 1940, para melhorar a leitura de jornais.

No Google Docs é possível instalar uma extensão chamada Flesch Readability Score. O resultado deste texto aqui deu o seguinte:

Nível de Legibilidade Flesch: 27,6

  • 0 – 49 melhor compreendido por graduados universitários;
  • 50 – 69 facilmente compreendido por alunos de 13 a 18 anos;
  • 70+ facilmente compreendido por alunos de 10 a 12 anos de idade.

Quanto maior a pontuação, menor a capacidade do público leitor de compreender, devido ao nível de complexidade do texto.

A ferramenta também sinaliza as seguintes palavras que são consideradas “complexas” por serem longas:

  • 5 sílabas – dificuldades;
  • 5 sílabas – comunicação;
  • 4 sílabas – vocabulário;
  • 4 sílabas – seguidores;
  • 4 sílabas – limitadas;
  • 4 sílabas – financiar;
  • 4 sílabas – esperado;
  • 4 sílabas – escritora;
  • 4 sílabas – escrevendo;
  • 4 sílabas – entendidos;
  • 4 sílabas – doloroso;

Não vale a pena substituir as palavras acima para aumentar a pontuação e atender um público de nível médio a básico, por um simples motivo: o texto atende quem precisa ser atendido!

Pessoas graduadas, sim, bem como pessoas de nível médio oficialmente, mas dedicadas como poucos, que querem ser autoras de suas histórias, responsáveis por suas vidas.

Agora, se você é graduado e não entende, tudo bem! Não foi para você mesmo que escrevi!

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